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  • Foto do escritorPedro Rego

Expedição ao Ártico - Episódio 3

O dia amanheceu lindo! Esta seria a frase normal em Portugal, quando acordamos de manhã e o sol começa a entrar através das janelas! Mas não é essa a realidade no Ártico! O dia....simplesmente é sempre dia! Conforme descrito no anterior episódio, durante os meses de Verão o dia é sempre dia e o Sol está sempre acima da linha do horizonte. Confesso que foi estranho estar no quarto e deitar-me para dormir por volta das 22h00 e lá fora a luz permanecia igual, como se fossem as 16h00. No entanto, o cansaço era tanto, tanto que nem sequer me incomodou por muito tempo. Precisava urgentemente de descansar, sabia que tinha dias duros pela frente, com poucas horas de sono e o stress e ansiedade constante de descobrir e fotografar o grande Urso do Norte, o Urso Polar.



Fotografia do quebra gelos Ortelius - navio de expedições ao ártico e antártida
Quebra gelos Ortelius

Saí do quarto com as malas e fiz o check out. O Hotel onde pernoitei fica na zona mais alta de Longyearbyen e como tal, o percurso em direção ao Porto é bem mais fácil que o percurso inverso. A descer, todos os santos ajudam! Ao longo do caminho ia percorrendo as poucas casas desta localidade e ao chegar a uma zona mais baixa, deparei-me com uma rena de Svalbard ali, bem perto do "centro" da localidade. Baixei-me, abri a mochila e tirei a tele-objetiva para a fotografar. Que linda!! O pelo branco, aos poucos é substituído por pelo cinzento, mais próprio das temperaturas mais "amenas" do Verão Ártico. Falaremos destes pormenores mais à frente, num outro episódio.



Rena de Svalbard a pastar em Longyearbyen
Rena de Svalbard a pastar em Longyearbyen

A hora de saída de barco, rumo a ainda mais a Norte (relembrar que Longyearbyen está situada no paralelo 77º) estava marcada para as 17h00, e ainda eram 12h00. Tinha tempo para umas caminhadas à volta de Longyearbyen e ficar a conhecer melhor esta localidade. Mas...tinha um problema. Além da mochila com o material fotográfico, tinha comigo o outro saco de viagem, com roupas e mais material. 23kg de mala! Seria impossível andar de um lado para o outro com essa mala. Decidi procurar a ver se encontrava algum local com cacifos onde pudesse guardar a mala. Nada. Havia uns cacifos na estação do correio mas muito pequenos para o volume da mala. Entrei num café restaurante, decidi que ia almoçar, tomar um café (acto preciosíssimo!) e depois resolver como ia fazer. Vi que a um canto do café, estavam 3 malas enormes. Perguntei ao dono se havia problema em eles me guardarem a mala por cerca de 1 hora, simpaticamente respondeu-me que era normal as pessoas fazerem isso ali. Não se responsabilizava se a mala desaparecesse mas se quisesse podia deixar ali. Não terminou a conversa sem me sossegar: " Não se preocupe, aqui ninguém rouba nada!" Também achei que não, mas fiz um sorriso meio amarelo...como quem diz...."Okkkk........Mas tenho receio!!" :)



Estátua de homenagem ao mineiro em Longyearbyen
Estátua de homenagem ao mineiro em Longyearbyen


Deixei a mala lá e comecei a explorar. Circula-se bem, os caminhos são alcatroados e sem neve nesta altura do ano. Dirigi-me a uma zona onde está o cemitério de Longyearbyen. Que mórbido Pedro, com tanta coisa a ver vais ao....Cemitério?? É verdade! :) Mas há um motivo para isso, este cemitério tem alguma história. Tal como já referido, Svalbard é território de "ninguém" mas é gerido pela Noruega. Como é território de ninguém, também não pode haver lá "cidadãos", pelo que todas as pessoas que vivem e têm casa em Svalbard, ou que trabalham lá, têm de ter obrigatoriamente uma residência oficial, ou fiscal na Noruega. Assim, em boa verdade, todos os habitantes de Longyearbyen, não moram lá oficialmente. Por isso, quando alguém morre em Longyearbyen o corpo não é enterrado lá, é levado para o cemitério da sua localidade oficial. Pode então dizer-se que não há mortos em Longyearbyen e de facto não há! Mesmo inclusivé o número de óbitos ali é muito reduzido, já que quando alguém fica muito doente ou está "nas últimas" é transportado para a Noruega. No entanto, sempre que alguém perde a vida é-lhe erigida uma cruz sob forma de memorial, no "tal" cemitério de Longyearbyen.


Há ainda outra explicação para o facto de os corpos não poderem ser enterrados aqui. Segundo me explicaram, existe o perigo de contaminação dos solos pelos corpos em decomposição e não podem arriscar isso numa ilha com um ecossistema tão frágil como o de Longyearbyen. Assim, não há corpos enterrados aqui, somente as cruzes de homenagem!


Cemitério de Longyearbyen
Cemitério de Longyearbyen


Acabei por descobrir também a Igreja de Longyearbyen (belíssima!!) e a estátua de homenagem a Jonh Longyear, o fundador desta localidade em Pleno Ártico! Para não dar um tamanho monstruoso a este episódio, irei deixar a história de Jonh Longyear para outra publicação.


Monumento de homenagem ao "fundador" de Longyearbyen - John Longyear
Monumento de homenagem ao "fundador" de Longyearbyen - John Longyear

Igreja de Longyearbyen
Igreja de Longyearbyen

As horas foram passando e a chegada da hora de partida deu-me uma adrenalina e uma descarga de ansiedade incríveis! A perspetiva de partir rumo ao Pólo Norte e os mares gelados em busca do "meu" Urso Polar empolgava-me! A Expedição ao Ártico estava a chegar ao momento tão ansiado!


Com a documentação toda ok e conferida antes de embarcar, chegou a hora de sair! As vistas do mar para as montanhas de Svalbard são de cortar a respiração! As nuvens tomaram conta do céu e dificultavam o processo fotográfico, mas estava tão maravilhado com tudo à minha volta, que nada importava!



Saída de Longyearbyen no navio quebra gelos - Navio Ortelius da Oceanwide expeditions
Saída de Longyearbyen no navio quebra gelos

Paisagens do Ártico à saída de Longyearbyen
Paisagens do Ártico à saída de Longyearbyen

Paisagens do Ártico à saída de Longyearbyen
Paisagens do Ártico à saída de Longyearbyen

A primeira parte da viagem estava a ser relativamente calma, mas não era por isso que abandonava o meu posto de "vigia" na parte exterior do barco, não queria perder 1 segundo que fosse, uma oportunidade que fosse!

Com o passar das horas a cadência de fotos começou a cair, mas os olhares sempre a percorrer o mar e as montanhas para tentar vislumbrar alguma coisa!


E eis que de repente avistámos 2 vultos ao longe na orla costeira! Eram os primeiros ursos polares que via na vida (ao vivo claro!!)! Embora estivessem bastante longe não parei de lhes fazer fotografias! Que momento!! Claro que fotograficamente falando não eram as fotos que pretendia, mas foi sobretudo o impacto da primeira observação que fez o corpo tremer!


Ursos Polares em movimento na orla costeira de Svalbard
Ursos Polares em movimento na orla costeira de Svalbard

Ursos Polares em movimento na orla costeira de Svalbard
Ursos Polares em movimento na orla costeira de Svalbard



Olhei para o Rinnie, o nosso líder de expedição e vi a cara dele com um semblante carregado. Perguntei-lhe o porquê? A resposta dele tirou-me o sorriso dos lábios. Explicou-me que era muito raro ver ursos ali, porque ali não há nada. Não há focas , não há gelo de mar para caçarem e estavam a dirigir-se para Sul onde não há mesmo nada para eles. Era uma mãe e um juvenil de 1º ano e se não encontrarem uma carcaça de baleia será muito difícil sobreviverem....

Foi um soco na barriga. Voltei a olhar para a orla costeira, os Ursos eram agora apenas 2 pontos muito pequeninos a movimentarem-se...Em silêncio desejei-lhes toda a sorte e que possam sobreviver! Outrora não haveria tanta dificuldade em obter alimento, pois o mar ficava muito mais tempo com gelo e obviamente era muito mais fácil para o Urso alimentar-se.

Na foto podemos ver também uma Rena de Svalbard a olhar atentamente para os Ursos. Antes, estes não eram uma ameaça para elas, no entanto tudo mudou. É um tópico que irei abordar noutro post.


Ursos Polares em movimento na orla costeira de Svalbard, observados por uma Rena de Svalbard
Ursos Polares em movimento na orla costeira de Svalbard, observados por uma Rena de Svalbard


A. viagem prosseguia! Estávamos a aproximar-nos de uma pequena ilha onde por vezes se viam ursos, mas os grandes protagonistas desta ilha são...aves! Embora as renas, morsas, ursos e raposas do ártico sejam obviamente os maiores protagonistas deste lugar, existem também algumas aves que fazem deste sítio a sua casa, pelo menos durante os meses de Verão!


Aqui vive uma enorme colónia de Eider-Real (Somateria spectabilis). É um grande pato marinho que se reproduz ao longo das costas árticas do Hemisfério Norte do nordeste da Europa, América do Norte e Ásia. As aves passam a maior parte do ano em ecossistemas marinhos costeiros em altas latitudes e migram para a tundra ártica para se reproduzir em Junho e Julho.




Eider Real em Vôo
Eider Real em Vôo

Colónia de Eider-Real na tundra ártica
Colónia de Eider-Real

Eider Real macho a aterrar no mar gelado
Eider Real macho a aterrar no mar gelado

É fantástico ver estes lindos animais com cores que mais parecem de aves tropicais, mas que vêem para as terras frias do Ártico para procriar devido às excelentes condições de alimentação que o Ártico lhes dá. Aqui, encontrámos também uma outra ave incrível, o Falaropo-de-Bico-Grosso Phalaropus fulicarius. Tal como o Eider, esta ave lindíssima encontra aqui no Ártico o lugar ideal para nidificar e se reproduzir. Como não têm árvores, nem vegetação, nidificam no chão onde ficam um pouco à mercê de Ursos e Raposas do ártico, mas a disponibilidade de comida e as condições do Ártico dão-lhe tudo o que necessitam e por isso dirigem-se qui todos os anos para procriar!



Falaropo de bico grosso a alimentar-se nas águas do Ártico
Falaropo de bico grosso

Falaropo de bico grosso a alimentar-se nas águas do Ártico
Falaropo de bico grosso

E ainda, nesta ilha, encontrámos um local de nidificação da Gaivina do Ártico (Sterna paradisaea), também conhecida como Andorinha do Ártico! São incrivelmente agressivas quando nos aproximamos dos ninhos, fazem vôos picados em direção ao invasor e estão constantemente a vocalizar de forma forte para intimidar!


Uma enorme "curiosidade" relativa a esta ave é que ela é a maior migradora do Mundo! Ela aproveita dois Verões no ano, passa um Verão no Ártico, entre Maio e Setembro e depois migra para a Antártida onde permanece de Novembro a Março! Pelo meio, migrações de cerca de 19 mil Kms!! Cada ave percorre cerca de 38 mil Kms por ano e algumas muito mais pois são obrigadas a contornar continentes na sua travessia! Incrível!


Gaivina do Ártico, ou Andorinha do Ártico em vôo no Ártico
Gaivina do Ártico, ou Andorinha do Ártico

Gaivina do Ártico, ou Andorinha do Ártico em vôo no Ártico
Gaivina do Ártico, ou Andorinha do Ártico em vôo no Ártico

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Mas....Nada de Ursos e também uma pequena desilusão, pois esperava ver por aqui alguma Raposa do Ártico. As coisas são assim, nem sempre correm como esperamos.


Continuamos a viagem e enquanto navegamos o tempo é passado sobretudo à espreita de ver um urso. Só parava para ir comer e também dormir um pouco. A média de horas de sono são de cerca de 4 horas. O meu quarto no barco era partilhado com mais 3 pessoas e dormíamos em beliches. Era extremamente difícil estarmos lá os 4 ao mesmo tempo, mas eu não planeava estar lá muito tempo! :) Em cima da minha cama, carregadores de baterias sempre a funcionar e o "pc" e discos externos para ir passando as fotografias.



Usando a teleobjetiva para tentar descobrir um Urso
Usando a teleobjetiva para tentar descobrir um Urso

Usando a teleobjetiva para tentar descobrir um Urso
Usando a teleobjetiva para tentar descobrir um Urso


Quase nunca uso luvas a não ser em situações muito extremas, isso valeu-me uma bela queimadura de frio no dedo indicador direito que uso para disparar o obturador, felizmente uma pomada milagrosa fez com que a queimadura passasse sem deixar muitas marcas permanentes!


As paisagens continuam deliciosas! Rumamos agora para um dos maiores glaciares de Svalbard, o Glaciar do Mónaco, ou como dizem em Norueguês, Monacobreen.


No próximo episódio, veremos o Glaciar e mais Ursos a chegar! E também....Um enorme revés na expedição que quase deitou tudo a perder....


Não percam!



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