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  • Foto do escritorPedro Rego

Expedição ao Ártico - Episódio 2: Viagem e chegada a Svalbard

E tudo estava a começar. A saída estava programada para as 3h30 da manhã. De Bragança iria viajar de carro para Madrid onde ia apanhar o 1º avião do dia, pelas 8h30 da manhã. Sim, o primeiro pois esperavam-me 3 escalas! Foi a forma que arranjei de conseguir o vôo mais barato possível. O itinerário é: Madrid-Copenhaga (escala de 3 horas); Copenhaga-Oslo (Escala de 13h!!!) Oslo-Tromso (basicamente aterrar, sair do avião e voltar a entrar) e finalmente Tromso-Longyearbyen. Estava a começar a Expedição ao Ártico!


As viagens correram muito bem! Obviamente com imenso cansaço devido às muitas horas de viagem, foram mais de 24h de viagem e também devido às escalas que são sempre difíceis de gerir. A escala em Copenhaga foram apenas 3 horas que se suportam bem, mas em Oslo 13h de espera foram difíceis de suportar. Ainda por cima foram durante a noite com um barulho enorme no aeroporto que estava em obras e não me permitiu dormir bem....Para piorar, a minha bagagem de mão é praticamente material fotográfico o que dificulta sempre qualquer tentativa de saída do aeroporto para ir visitar a cidade. Não é nada agradável, mesmo sendo Oslo e tratando-se a Noruega de um País bastante seguro, andar para trás e para a frente com equipamento caríssimo numa mochila. Confesso que nem procurei se havia aqueles cacifos onde guardar malas pois era já noite quando cheguei, cerca das 20h e o que queria era comer alguma coisa e descansar um pouco e tentar dormir nos bancos do aeroporto.

De referir apenas sempre o stress dos check-in por causa do peso da bagagem de mão, que anda sempre no limite, claro! Não prescindo de viajar com as máquinas e as objetivas comigo, pois não confio em transportar este material na bagagem de porão. Ainda assim, muito material vai na bagagem de porão o que faz com que seja um foco de tensão adicional na viagem. Há sempre o medo da mala desaparecer ou se perder como infelizmente muitas vezes acontece.

Já imaginaram o que seria ir para tão longe com tudo tão apertado de tempo e a mala de porão não aparecer? Se fosse só roupa olha...pronto fazia-se o esforço de andar sempre com a mesma roupa! :D Mas o material esse não podia falhar. Tripé, acessórios para filmar e vários acessórios fotográficos, tudo imprescindível para se poder fazer um bom trabalho, se isso se perdesse ou se se atrasasse, era um desastre. Assim que, em Oslo foi necessário mudar de companhia aérea, da Norwegian para a Scandinavian Airlines e tive que recolher a mala de porão e efetuar novamente o check-in. A mala tardava em aparecer no tapete rolante e quanto mais demorava mais o estômago começava a apertar. Mas lá vinha ela e assim que a vi foi um respirar de alívio. Feito o check-in, é seguir para a porta de embarque e esperar o embarque.



Vista da janela do Avião sobre Oslo - Noruega
Saída de Oslo em direção a Tromso

Após levantar de Oslo, a viagem de avião foi rápida. Basicamente sobrevoar a Noruega até ao seu extremo Norte, Tromso para pousar, deixar alguns passageiros, recolher outros e partir. Neste troço tive a sorte de ir à janela, sorte que não iria ter, infelizmente, na viagem final entre Tromso e Svalbard. Mesmo assim as fotos eram difíceis uma vez que o meu lugar era mesmo em cim da asa e então...não dava para grandes fotos. Levantámos de Tromso, a viagem iria demorar cerca de 3 horas se bem me recordo. Lembro-me de começar a olhar em volta no avião e pensar "Talvez já estejam aqui pessoas que me vão acompanhar no quebra-gelos". E estavam claro. Um deles era o Rinnie Van Meurs. Trabalha há mais de 30 anos no ártico como líder de expedições. Conhece aquele mar como ninguém e é um expert em encontrar Ursos Polares. Claro que na altura não o conhecia e não sabia que seria ele o líder da expedição.

A viagem foi incrível! Primeiro porque ao levantar de Tromso pude ter uma vista aérea sobre as montanhas lindas do Norte da Noruega e depois, ao chegar a Svalbard as montanhas com neve de Svalbard.


Vista da janela do avião sobre a Noruega
Vista sobre a Noruega


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Já agora, uma breve curiosidade, O arquipélago de Svalbard é conhecido por Svalbard mas também por Spitsbergen. E porquê os dois nomes. Antigamente o nome do Arquipélago era Spitsbergen, tal como o nome da maior ilha do arquipélago e onde se situa por exemplo a localidade de Longyearbyen. Depois, o Estado Norueguês decidiu alterar o nome do arquipélago para Svalbard, mantendo-se Spitsbergen o nome da maior ilha.



Fotografia do arquipélago de Svalbard e da ilha de Spitsbergen
Arquipélago de Svalbard

O Estado Norueguês tem a jurisdição sobre este arquipélago e tem um administrador Norueguês, no entanto Svalbard não é tecnicamente um território da Noruega, em boa verdade Svalbard não pertence a ninguém! Tal como estabelecido pelos acordos internacionais de proteção de Svalbard, tecnicamente Svalbard é um território "desincorporado", ou seja, terra de ninguém. Mas com jurisdição Norueguesa...:) Mais à frente falaremos mais sobre outras curiosidades relativas a Longyearbien!


A viagem estava perto de chegar ao fim e eu perto de cumprir um sonho, o de pisar as terras do alto Ártico, bem perto do Pólo Norte Geográfico. Mal sobrevoei Svalbard apaixonei-me de imediato por aquele lugar tão mágico! Montanhas majestosas cheias de neve, já com sinais de derretimento nas suas bases fruto do avançar do verão ártico...O dia estava muito nublado e assim que o avião passou as nuvens, aquela vista foi um choque de beleza para o meu olhar! Estava rendido ao Ártico! Era tudo o que tinha imaginado e muito mais....!


O avião aterrou, estava em pulgas para sair, mas contive-me, num avião não há outra hipótese. Tiramos as nossas coisas das cabines e esperamos a nossa vez de saída. Há sempre um ou outro esperto que tenta furar, enfim que fazer. Lembro-me de sair pela porta do avião, não há manga, iríamos sair diretamente para a pista, o aeroporto é pequeno. Saio e olho em redor. Nem queria acreditar que estava ali. Depois de tudo, toda uma batalha para conseguir angariar os fundos suficientes, depois de todas as batalhas emocionais, depois de tantos nãos, depois de uma mega viagem de mais de 24h de duração...estava ali. Confesso que sou um bocado "chorão" e toda esta emoção, toda esta descarga de adrenalina fizeram chegar aos olhos algumas lágrimas atrevidas! Apeteceu-me tirar a máquina logo ali e começar a fotografar as montanhas à minha volta! Mas ainda tinha muito que fazer, aliás depois desta emoção inicial, voltei "à Terra" e começou a angústia de perceber se a minha mala estava ali e se estava tudo bem!


Entrei dentro do aeroporto e vi o meu primeiro Urso Polar! Não, descansem que não andava um Urso no Aeroporto! Era um boneco grande! :) Fiz uma fotografia com o telemóvel desse Urso mas infelizmente não a consigo encontrar em lado nenhum...No entanto podem ver na minha página de facebook.

O tapete das malas começou a rolar e começaram também a aparecer as primeiras malas. Até aqui tranquilo. Passado algum tempo nada de mala. Vejo que há malas no tapete que já vão para a terceira volta e...nada da minha mala. O estômago começa a apertar cada vez mais. Só o facto de pensar que poderia ficar sem o material que tinha lá era profundamente aterrador! É que mesmo que não fosse roubada, mesmo que só estivesse perdida e que depois fosse devolvida, como é lógico já não poderia contar com esse equipamento para tudo o que restava da viagem, para toda a expedição e isso era terrivelmente assustador. O tapete rolante começava a ficar vazio. E nada da minha mala. O meu desespero começava também a galopar. "Algo não está bem...algo não está bem" pensava eu repetidamente! "A mala perdeu-se, não aparece....perdeu-se" Estas frases metralhavam-me a mente sem parar...Não vi a minha cara mas acredito que estivesse lívido! Passado algum tempo, já quase não havia malas no tapete decido que tenho que ir falar com alguém, a mala não aparecia. Queria ir falar com alguém mas o corpo não obedecia, os olhos permaneciam colados ao tapete com esperança que a mala surgisse!

E surgiu....e que alívio....!! A mala finalmente surgiu no tapete junto com mais algumas que por algum motivo tinham ficado para trás! A pressão começou a ficar menor e finalmente comecei a respirar e relaxar! Tinha tudo comigo e estava tudo bem!


Era tempo agora de sair do Aeroporto e apanhar um autocarro que me iria levar ao centro de Longyearbyen. Ainda é longe do Aeroporto lá e só de táxi ou através do Bus do Aeroporto se pode ir. À saída do Aeroporto mais um ícone de Svalbard e de Longyearbyen, as placas com várias indicações de lugares na Terra e a distância a que estávamos. Olhei para a placa que dizia "Pólo Sul" - 18 mil kms de distância....Senti mesmo que estava numa das pontas do Mundo! Foi uma sensação ótima! Claro está, que não podia sair dali sem tirar uma foto às placas!!



Placas icónicas à saída do Aeroporto de Longyearbyen
Placas de direções à saída do Aeroporto

Por norma os Ursos Polares não se chegam à localidade, preferem vaguear pelo gelo à procura de focas, no entanto, com o degelo cada vez mais evidente, têm sido também cada vez mais os relatos de aproximações de Ursos Polares a Longyearbyen e recentemente, em 2020, um homem foi morto muito perto destas placas por um Urso Polar. O homem estava num "campsite" - tipo acampamento, quando o Urso o atacou na sua tenda e o matou. Há uma regra de ouro em Svalbard, ninguém pode ultrapassar os limites da localidade (que estão bem visíveis com sinais), sem que vá armado com um "riffle" e uma pistola de aviso. Se o Urso se aproximar faz-se barulho e normalmente ele assusta-se e vai-se embora. Se isso não resultar dispara-se para o ar a pistola de aviso e se isso também falhar....o último recurso é a espingarda. O ideal é sempre manter as distâncias e não os perturbar ao ponto de eles quererem vir ter connosco.

Mas a fome e a necessidade têm feito os Ursos aproximarem-se mais dos locais onde o homem tem presença aqui em Svalbard.


Chegado ao Hotel onde iria pernoitar uma noite, ou melhor 1 dia, que aqui nesta zona não há noite, durante o seu período de Verão. Foi apenas o tempo de deixar a mala com roupas e acessórios e preparar a mochila de fotografia para sair e ficar a conhecer um pouco melhor esta pequena localidade, Longyearbyen.

Como referido em cima, os Pólos têm esta característica de não terem noite durante 6 meses e não terem dia durante os outros 6. Em Abril, começa a despontar o sol novamente em Svalbard, à medida que os dias passam a noite começa a ficar mais pequena e acaba por desaparecer por completo, para dar lugar ao dia, sempre presente. Em Setembro, começa a regressar a noite e da mesma forma, à medida que os dias passam o dia é completamente substituído pela escuridão permanente.


Fiquei na dúvida entre levar a 500mm ou não, uma vez que é uma objetiva grande e pesada e decidi levá-la. Não iria querer "viver" com a culpa de ter perdido um plano por "preguiça". Mas é uma decisão difícil pois o meu "hotel" fica na zona alta de Longyearbyen e a ida para a localidade é fácil...é a descer, mas a vinda...ui se custou! E há sempre essa decisão difícil de levar uma objetiva grande ou não...Neste meu caso foi completamente desnecessário levar pois acabei por não a usar....Mas....E se aparecia um Urso ao longe? :)


Longyearbyen é fascinante! Uma localidade pequena que cresceu com a permanência de equipas de cientistas primeiro, estudantes de um pólo universitário depois e por fim, o Turismo! Se pretenderem saber mais sobre esta bela localidade podem comprar o meu livro "Pólo Norte - O Degelo Final".

vista de uma das ruas de Longyearbyen e das montanhas  ao fundo
Vista de uma das Ruas de Longyearbyen


Nesta altura, as motas de neve estão paradas e dão lugar aos automóveis e bicicletas para as pessoas se deslocarem. A neve já abandonou por completo as ruas e só permanece nos pontos mais altos das montanhas...

Deambulei um pouco por ali, deliciado pela experiência claro!



loja em Longyearbyen com um boneco Urso Polar gigante no interior
Loja em Longyearbyen com boneco de Urso

Ruas de Longyearbyen no Verão Ártico, sem neve com as montanhas ao fundo
Ruas de Longyearbyen no Verão Ártico, sem neve.

Mas queria chegar o mais rápido possível à zona baixa, junto do mar para poder ter boas perspetivas sobre a localidade e sobre as montanhas que nesta altura do ano ainda retêm alguma neve! Deveriam ter mais....Ao final de contas estávamos no início de Junho e o Verão Ártico acabara de chegar. No entanto o degelo das montanhas e da água já se encontrava algo acelerado! As primeira fotografias não correram a 100%. O cansaço das viagens fazia-se sentir. A cabeça tinha o raciocínio lento, custava-me encontrar enquadramentos e a luz....estava uma miséria! Mas sabia que o esperar por outro dia para ter luz melhor, era uma opção que não podia ter! Assim que, ou aproveitava o que tinha....Ou nada! E assim sendo, aproveitei o que tinha!



Vista das montanhas em frente a Longyearbyen, com alguma neve e nuvens fortes.
Vista das montanhas em frente a Longyearbyen

De repente uma rena do ártico! Que visão maravilhosa, o meu primeiro avistamento deste animal! Fiquei surpreendido ao vê-lo tão perto das habitações a comer calmamente. Descobri depois, que a Rena vive agora tranquilamente nestes lugares. A caça à Rena, que quase dizimou esta espécie e quase a levou à extinção, parou. Assim, esta sub-espécie da Rena, a Rena de Svalbard salvou-se e vive agora muito mais em harmonia com o Homem. Infelizmente também ela ameaçada pelas alterações climáticas, não só por não conseguirem alimentar-se, mas também porque ganharam um novo predador....Não percam a informação que vos irei deixar num próximo episódio dedicado às Renas de Svalbard!


Rena a pastar nos limites de Longyearbyen com a envolvência das montanhas com neve em Svalbard
Rena a pastar nos limites de Longyearbyen


Iniciei a subida para o hotel, cansado mas feliz por estar onde estava, por estar a viver um sonho, por estar em "expedição", isto fez-me sentir um pouco mais Fotógrafo de Vida Selvagem e de Natureza...Não é que não o sinta a fotografar em Portugal, mas é diferente! Pelo caminho, umas compras no supermercado, queria comprar umas esponjas para colocar no tripé por causa das vibrações e alguma comida. Depois disso, paragem obrigatória, num café "super cool" para tomar o meu cafezinho de final de tarde! Quem me conhece sabe bem o quanto gosto de café!! Que delícia! Ali tudo parecia ter outro gosto!


Tempo para ir para o hotel, precisava mesmo, mesmo de ir comer alguma coisa e descansar, estava exausto! Pelo caminho observo umas construções antigas, que ainda por ali permanecem, das antigas explorações de carvão na ilha. Ainda há por lá minas em funcionamento, mas muito menos que antes. Todas estas infos estão no livro. A fotografia era, no entanto, indispensável!



Foto das estruturas antigas que serviam para as minas de extração de carvão
Estruturas antigas das minas.

Agora era tempo de descansar de todas as emoções e cansaço, no dia seguinte começava mais a sério a expedição com a partida para os mares do Pólo Norte e a ida para o Norte de Spitsbergen. A emoção crescia claro! E o sorriso nos lábios também!


Não percam o próximo episódio, a saída de Longyearbyen e as primeiras aventuras pelo Ártico!


Até já! ;)




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